segunda-feira


uma poesia
de cintura e boca

domingo

Sobre a linha tênue de não-ser o outro.

quinta-feira

"

tantos poréns que o consolo é dizer amém

denilson

terça-feira

Jung

Não é possível sentir os terrores do gelo polar na simples leitura de um livro, nem se escala o Himalaia assistindo a um filme. O amor custa caro.

Gêmeos

    Nós temos um peito que tamborila, vibra, arde, ora paciente, ora inconstante. Sempre passível de mudança. Temos um olhar que fotografa em alto contraste, luz e sombra gravam melhor qualquer imagem, os detalhes que vemos não cabem num retrato. E o retrato sobre a mesa por si só é uma paródia, uma anedota, uma saudade, uma derrota. Eventuais vitórias nos vêm quando finalmente nos vamos, e vamos sós, solidariamente desamparados, avessos às gritarias que tem no mundo.
     Que nosso mundo gira em torno de um milhão de sóis, e não é acaso.
     É o ocaso balbuciando outonos que perduram adentrando todo e qualquer verão. É um adeus que não se basta, é um túnel circular colidindo partículas em big bangs, um universo tão público quanto particular. Se quer entrar, antes bata. Se quer ficar, nos invada. Com um certo jeito, com um certo jogo, sem a intenção de intuir nada. Estamos sujeitos à avaliação depois que passar o furor de todo êxtase, de bom ou de ruim. Somos tristes, porque entendemos de sorrisos e sorrisos tem hora que são raros, isso nos afeta. Entretanto, somos alegres, já que aceitamos a melancolia como uma visita das três, quando o cheiro do café invade a cozinha. Não somos dois, somos como os sóis, milhões.
     Na nossa cozinha estão os encontros que interessam. Com eles enchemos a caixinha do sal, o conteúdo da panela. Enxergamos a arte porque de nada adianta essa decência toda de que se vestem os manequins. Temos espírito de liberdade, mas enclausurados nesse mundo sem fim. Não é questão de contradição, ouça um tanto. Quem lá questiona um paradoxo? Somos armados de axiomas que se mistificam, somos labirintais, com um caminho nosso que leva direto ao centro. Não é preciso acreditar, dizer que sim com a cabeça. Se chegar a nos sentir, certamente entenderá, e as palavras se tornam desnecessárias. Por isso falamos muito: os de nós que se calam, ainda assim falam. Falam muito, falam pra dentro mirando o mundo, pichando um muro que divide os lençóis. Fazemos muralhas inteiras portando apenas estandartes sob os cabelos.
     E estamos atentos. Mercúrio se move, amamos movimento. Detestamos o afeto que seja simplório como só enxergar o mar. Necessitamos que se entenda o quebrar da onda na areia, necessitamos entender cada fio que trança na teia, exigimos nitroglicerina que soe serena sob a luz de um luar. Estamos sempre partindo em busca de um lugar pra ficar, e somos todos terrenos.
     E por mais que se explique, dói a cabeça tentar decifrar. Não temos fórmulas prontas, melhor fechar os olhos, dar um jeito novo de entender, um corpo pra abraçar. Estamos de mãos dadas, seja com o afeto, seja com o nada; lidamos apenas com os laços e com suas ausências. Encontramos força quando cansamos de nossa própria clemência. Chamam a nós de egoístas, mas francamente?
     É só que somos jovens demais pra só sentar e esperar.

Por Yuri Emanuel