sexta-feira

forgetting curve

   Há algum tempo atrás um velhinho descreveu uma característica do cérebro em relação ao esquecimento das coisas como Curva do Esquecimento. O tal velhinho, Ebbinghaus, tratou a capacidade que o cérebro tem de transferir nossas lembranças de uma memória que pode ser facilmente apagada pra outro tipo de memória que tem uma duração maior.
   Talvez seja algo como isso aconteça também em relação ao que fazemos. Pintar quando criança e depois de alguns anos não mais, gostar de conhecer pessoas novas e depois de algum tempo isso já não ser algo importante. Algo como um esquecimento gradativo de ex-prazeres. 
   Não posso negar que após o início da minha vida universitária uma parte do que eu gostava de fazer enquanto vadia de ensino médio perdeu quase que totalmente a graça (vez ou outra ainda encontro função em habilidades exóticas). 
   Primeiro sinto uma puta saudade de escrever algo que não sejam lamentações, relatórios de projeto ou a lista do supermercado. Aqueles textos com um tom meio-adolescente-meio-desbravador-meio- idealizador tinham um prazer quase sexual nas entrelinhas. Um pouco de crônica, um pouco de sátira, só talvez e quase nunca um pouco de mim. Era mais confortável e, sem pestanejar, mais fácil. Colocar-se no lugar do personagem e fazer inventação de histórias, sentidos e mundos que hoje em dia estão jogados em alguma caixa no quintal de casa.
   Segundamente posso falar sobre a saudade dos meus pincéis, dos rabiscos e dos mil papéis espalhados pela casa todas as horas do dia. Mas sobre essa saudade tenho a certeza que não quero prolongar a falação - pra não aumentar o vazio que já existe.
   As vezes sinto algo pra ser feito ... algo realmente bom pra ser feito, escrito, desenhado ou pensado em cores. Mas a vontade logo passa. É como uma impossibilidade, uma impotência. 
   Tenho a ideia formada sobre os fins, sei como e o que fazer no começo, mas há algo entre o esboço mental e levar minhas mãos até os meios.
No fundo penso que meu pai, rei das habilidades quase desprezadas, tem parte da culpa nessa tal culpa por esquecer. Era praticamente impossível resistir a aprender algo que ele fizesse ou pensasse fazer. E a gente nunca esquece algo que nunca soube fazer, certo?